Na manhã deste sábado, dia 27 de Abril, fiz uma viagem pelo
Rio Tapajós, até próximo à comunidade do Acará, onde estão trabalhando cerca de
70 dragas (balsas). A viagem começou às 8:30 horas, quando sai de casa em
companhia do meu cunhado Erasmo Braga e do meu amigo Tola. Seguimos de carro
até o Buburé, onde encontrei o amigo Índio, que já estava “melado”, como sempre,
tinha tomado todas. Ali encontrei o Veloso, um pioneiro da garimpagem na região
do Jatobá, o piloto de Voadeira Mamede, que me emprestou uma cadeira, para que
minha viagem fosse mais confortável, o piloto Zé da Conci do Pimental e duas
moças, que nos pediram carona até as dragas. Embarcarmos na minha voadeira
ANDRIA, que estava há dias no Buburé, aguardando esta nossa viagem, sob o
comando do experiente Erasmo Braga, filho do grande Carlito Braga, um dos
comandantes de barco mais conhecidos e experientes do Rio Tapajós. Nossa viagem
ocorreu a partir das 10:00 horas, e fui conversando com as duas jovens, que
inicialmente me disseram que trabalhavam de cozinheira nas balsas. Na conversa
revelaram que ganham em torno de 35 gramas de ouro por mês para cozinhar e
lavar roupa. Uma coisa que me chamou atenção foi que as moças declararam que
nas dragas se come bem, ou seja, tem de tudo. Para se ter uma idéia, a
cozinheira tem que saber fazer pão, bolo, salgados e até pizza, já que ali é
servido café, almoço e jantar, além de merenda. Isto nós constatamos na nossa
visita nas dragas, pois tudo que é servido nestas é de primeira. Mas voltando
ao depoimento das moças, elas disseram que estão trabalhando nas balsas porque na
cidade de Itaituba não há emprego. Inclusive afirmaram que depois que começou a
exploração de ouro com draga a vida de muita gente mudou em Itaituba e na
região, inclusive a delas. Chegando à região onde estavam as dragas, deixamos
uma moça na Draga MARIANA e a outra na Draga RABUGENTA. Passamos a visitar de uma em uma
das dragas, vendo todos os detalhes. Pude ver uma estrutura de primeiro mundo
das duas dragas MARIANA I e II, que muito me impressionou pela sua qualidade. Os
apartamentos todos de madeira macheada, como nas demais dragas, bem pintadas e
com centrais de ar condicionado. Na conversa com os dragueiros, fui informado
que cada balsa gasta diariamente 1.000 litros de óleo diesel, o que em 30 dias,
somados, gastam 30 mil litros e as cerca de 70 dragas mensalmente gastam em
torno de 2 Milhões de litros de óleo diesel. Outra informação importante, que
colhi ali foi com relação à produção de ouro. Calcula-se que cada draga produz
cerca de três quilos de ouro por mês, mas tem draga que chega a produzir mais
de cinco quilos. Isto é relativo, porque também tem balsa que gasta 10 mil
litros de óleo diesel e não tira nenhum quilo de ouro. Este é o risco da
garimpagem. Entretanto, só estas balsas ou dragas, como queiram chamar,
produzem mensalmente em torno de 100 a 150 quilos de ouro. Cada draga possui
cinco funcionários e cada um dos empregados ganha como pagamento pelo trabalho
4% da produção de ouro. Exemplo: se a balsa produzir três quilos de ouro, cada
empregado ganha 120 gramas de ouro, ou seja, equivalente, hoje, cerca de RS:
12.000 (Doze Mil Reais). Em torno destas dragas, vive muita gente trabalhando
em atividades que subsidiam o funcionamento destas diariamente, como as
distribuidoras de combustível, comércio de gêneros alimentícios, as lojas de
peças, os pilotos de voadeiras, hotéis, restaurantes, o transporte terrestre
entre Itaituba o Buburé. Muita gente vive da movimentação destas dragas, que
têm proporcionado melhoria de qualidade de vida de dezenas e dezenas de
famílias. No entanto, as dragas são acusadas de gerar impactos ambientais, como
a poluição dos rios. Esse é um problema sério, mas que precisa ser tratado de
forma técnica, jurídica e criteriosa, uma vez que as atividades econômicas
ligadas a esse ramo da mineração na região é de fundamental importância para o
município de Itaituba e para o Brasil. É preciso conciliar o desenvolvimento econômico,
o social e o ecológico, o “tripé” do desenvolvimento sustentável, tão discutido
na Conferência das Nações Unidas Rio-92, e exigido num dos principais
documentos desta conferência, a Agenda 21, que precisa ser seguido pelas
nações. Portanto, é preciso repensar a forma de como lidar com essa realidade,
para evitar com que muito mais problemas possam surgir como os socioeconômicos,
que a meu ver, também é impactante, uma vez que grande parte da economia do
município gera em torno da mineração do ouro. Todos que trabalham nas dragas e
no seu entorno, estão preocupados com a possibilidade da paralisação do
trabalho destas, que caso aconteça, causará um colapso social e econômico na
região, pois muita gente fez investimento apostando na exploração de ouro com
estas balsas e estão devendo na praça.
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